2 de nov. de 2018

Princesa Isabel: Entre o distrito de Lagoa da Cruz (PB) e o Canadá, a Matemática

Quem tira o sustento da roça sabe que, em tempo de céu seco, não há suor que faça algo germinar. Rogaciano e Adeilda Ferreira da Luz que o digam. Morador do distrito de Lagoa da Cruz, em Princesa Isabel (PB), a 420 km da capital João Pessoa, o casal de agricultores criou os seis filhos driblando as intempéries do sertão. Leandro, o quinto, de 17 anos, sonha cursar medicina. Ao realizá-lo, será o primeiro da família a entrar na universidade.

Credenciais não faltam, a julgar pelo relato de Maria do Bom Conselho Freitas. Mestre em Matemática Pura e Aplicada e professora da rede pública de Pernambuco há mais de duas décadas, ela sabe bem do que o adolescente é capaz. 

 “Nos 22 anos em que trabalho na Escola Tomé Francisco da Silva, tive a oportunidade de trabalhar com diversos alunos, alguns muito inteligentes, esforçados, com vontade de vencer, alunos brilhantes com raciocínio lógico diferenciado. Dois foram muito especiais: um faz Matemática na Universidade Federal da Paraíba; o outro é Leandro.

” Bom Conselho o conheceu em 2014, quando ele passou a frequentar aulas de aprofundamento em Matemática. À época, o estudante fora classificado para a segunda fase da OBMEP. Dois anos depois, quando Leandro virou seu aluno no ensino regular, o contato se estreitou. “Passei a admirá-lo ainda mais. Inteligente e disciplinado. Humilde, não se deixou abater pelas dificuldades. Está sempre agarrando as oportunidades”, observa. 


Leandro estreou na OBMEP aos 12 anos, quando cursava o sexto ano do Ensino Fundamental. Ele lembra o quão impactante foi a experiência. “Aquelas questões eram totalmente diferentes. Nunca havia resolvido algo parecido. Era realmente maravilhoso”, recorda, detalhando o que sentiu ao conquistar uma medalha. “Foi espetacular. Passar por aquela experiência fez aumentar ainda mais a minha pela paixão pela Matemática.

” Aluno do 2º ano do Ensino Médio da Tomé Francisco da Silva, em Quixaba (PE), Leandro conquistou três pratas e um ouro na OBMEP. A premiação máxima o trouxe ao Rio no ano passado para receber a medalha, o que considerara inimaginável.

 “Nunca passou pela minha cabeça que um dia fosse à premiação no Rio de Janeiro. Sou de família pobre. Meu pai e minha mãe sustentaram e educaram seis filhos no cabo da enxada. Recebíamos um pequeno auxílio do governo por meio do programa Bolsa Família. Mesmo com todo o sufoco, eles faziam o máximo para que pudéssemos estudar e não faltar nada.

“Com a educação, a situação pode melhorar”

” No lar dos Ferreira da Luz, as conquistas de Leandro são motivo de orgulho. A família já enfrentou muitas dificuldades, mas Adeilda crê que, com a educação, a situação pode melhorar. “A família é muito grande, mas a gente vai em frente, com fé em Deus e no estudo, que é uma coisa muito importante na vida de todos. Leandro, um dia, há de ter um futuro bom, um trabalho para se manter.

” Embora ninguém da família já tenha estudado em universidade, Leandro conta que nenhum dos seis filhos vive “preso à roça”. Os dois mais velhos são caminhoneiros e entregam ovos produzidos em uma granja de Princesa Isabel. 

 As duas irmãs mais velhas moram em João Pessoa e São Paulo. Leandro permanece em Lagoa da Cruz com a caçula. Ele acha que a vida melhorou. Os pais já não recebem o Bolsa Família. Rogaciano começou a trabalhar em uma granja, recebendo salário mínimo.

Agora, Leandro sonha com o Canadá. Foi selecionado para intercâmbio no país pelo Programa Ganhe o Mundo, da Secretaria de Educação de Pernambuco.

 E se ingressar na medicina, a Matemática, que lhe abriu tantos caminhos, há de acompanhá-lo. “Ela está em tudo. Independentemente de minha escolha, irei conviver com ela no meu dia a dia.” Torcida para que realize esse desejo não falta.

Créditos:  Karine Rodrigues
Fonte: IMPA

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