23 de mar. de 2018

Princesa Isabel, saneamento rural e a transformação necessária


Na zona rural do Alto Sertão da Paraíba, a união entre agricultores, professores, estudantes e técnicos pela implantação de saneamento rural está dando início a uma transformação no município de Princesa Isabel, distante cerca de 420 quilômetros da capital do estado, João Pessoa.

Selecionado para o Mercado de Soluções do 8º Fórum Mundial da Água, o projeto “Disseminação de Tecnologias Sociais de Saneamento Rural em Princesa Isabel-PB e Entorno” alcança, atualmente, 14 comunidades rurais e quilombolas na região semiárida, envolvendo mais de 150 pessoas, engajadas na aprendizagem e na aplicação de tecnologias sociais para melhorar o esgotamento sanitário nas comunidades, proteger os mananciais hídricos e promover a saúde da população.  
Segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o município tem aproximadamente 23,5 mil habitantes. O último censo demográfico mostrou que o território rural ocupa 98% do total do município, com 31% da população vivendo em comunidades rurais. As distâncias entre as comunidades e as cidades mais próximas variam de 10 a 35 km,  em região de relevo irregular e de difícil acesso. Localizado na Região Hidrográfica do Atlântico Leste, o município tem um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) da Paraíba, e está, também, entre os menores índices de saneamento ambiental e de garantia hídrica, de acordo com publicação da Agência Nacional de Águas (ANA).  
Para enfrentar a dura realidade da falta de saneamento básico, as próprias comunidades de agricultores familiares e de quilombolas foram em busca de apoio e encontraram no Instituto Federal da Paraíba (IFB-PB, campus Princesa Isabel) um aliado na oferta de cursos de formação inicial e continuada para agricultores familiares com enfoque em meio ambiente e desenvolvimento rural sustentável. O estabelecimento de um projeto de extensão para encontrar soluções para os desafios locais foi uma consequência natural dessa união.
“O projeto não oferece pacotes prontos. É a partir da relação com as comunidades que são identificadas as necessidades e as demandas, e nos mobilizamos para atendê-las. Para nós, a contrapartida é a troca de saberes tradicionais e o compartilhamento do conhecimento, bem como a promoção da educação ambiental de forma mais aprofundada”, explica Artur Lourenço, coordenador de Pesquisa, Extensão e Inovação do IFB-PB-Campus Princesa Isabel e do projeto.
Para os estudantes do IFPB que participam do curso de extensão, o projeto possibilita colocar em prática o que é visto em sala de aula. “Uma motivação é que os comunitários sabem das suas dificuldades e estão interessados em mudar a situação. Essa experiência me fez perceber que nem sempre os problemas precisam de uma solução convencional. A solução pode ser simples e viável, e qualquer um pode colocar em prática", comenta a estudante Cirleide Gomes.
Executado pelos membros do Centro de Assessoria Comunitária a Tecnologias de Utilidades Sociais (CACTUS), em parceria com a organização não governamental Centro de Capacitação Agrocomunitário (CCA) e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER-PB), o projeto realiza rodas de conversa, dias de campo, oficinas sobre o tratamento de esgoto doméstico, elaboração de manuais e maquetes, bem como modelagem 3D das tecnologias com objetivo de sistematizá-las e registrar as adaptações realizadas em conjunto com as comunidades, além de instalação de unidades demonstrativas. Atendendo ao pedido das comunidades, as ações sempre são realizadas aos domingos já que durante a semana os moradores estão ocupados nas plantações.
O projeto terá continuidade em 2018 e o objetivo é mobilizar o poder público local para estender o acesso ao saneamento básico a todas as famílias da zona rural. Com a participação no 8º Fórum Mundial da Água, a esperança é encontrar parcerias nacionais e internacionais para viabilizar a implantação de fossas ecológicas em toda a zona rural do município. “No Fórum, vamos chamar  atenção para a necessidade de ações que visem o saneamento em zonas rurais e fortalecer abordagens construídas com base comunitária”, comenta Artur Lourenço.
Terra de poetas, trovadores e do famoso violonista Canhoto da Paraíba, o município - que em 1930 foi palco de uma revolta que criou temporariamente o território independente de Princesa -, coloca em marcha um novo movimento, agora para garantir direitos básicos: o acesso ao saneamento rural doméstico.


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